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Nirez

Guardando as coisas boas da vida

Ao colecionar mais do que objetos como vinil e anúncios publicitários, o pesquisador também cativou e guardou muitos sentimentos amorosos no coração

Texto/ vídeo/ fotos: Rafaella Girão - 8° semestre

Filho do fotógrafo, pintor e poeta Otacílio de Azevedo, Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido como Nirez, nasceu em Fortaleza, mais precisamente na Avenida Visconde do Rio Branco, em 1934. Ele e a família residiram em vários lugares da cidade. Mas, foi em um sítio, localizado na atual rua Confúcio Pamplona, antiga rua da Botija, que ele relembra com saudosismo de uma infância cercada por árvores frutíferas.

                             

O pequeno Miguel adorava colher frutas e correr pelo sítio. “Lá havia todo tipo de frutas. Então, um menino de 4 para 5 anos num negócio desses, ficava muito feliz!”, recorda. Mas, essa felicidade durou pouco, pois aos 7 anos, teve que dar adeus aos pés cajueiros. A família precisou se mudar para uma pequena vila de casas, sem quintal e, logo, ele foi colocado para frequentar a escola.

 

Nessa época, seu pai tinha acabado de pintar um quadro para um amigo e recebeu como pagamento, um gramofone e uma porção de discos. O primeiro contato de Nirez com música foi por intermédio deste gramofone. Ele relembra dos momentos em que passava as tardes ouvindo discos e as músicas foram ficando gravadas na sua memória.

 

Ao completar 20 anos, Nirez ganhou de presente de um vizinho, que sabia do seu amor pela música, sua primeira “pickup” como eram chamados os toca-discos naquela época. E, desde então, começou a sua busca incessante por discos e peças relacionadas ao universo da música, fotografia e de embalagens publicitárias. Com o tempo, tornou-se o maior pesquisador de vinil do Ceará, com um acervo que conta com mais de 22 mil exemplares de discos de cera, em 78 rotações.

 

Seu primeiro emprego foi como desenhista no jornal O Povo. Nirez desenvolvia rótulos, logos e anúncios que eram publicados no jornal. Em 1955, surgiu em Fortaleza a primeira agência de publicidade, a “Exata Publicidade” e Nirez foi convidado para ser o desenhista oficial da empresa. Ele também executava alguns trabalhos como freelance, e decidiu sair do jornal para colocar uma banca no ”Foto Nelson”, uma loja de fotografias no Centro de Fortaleza.

 

Nessa banca, Nirez recebeu uma proposta do dono de uma fábrica de tecidos, para desenvolver estamparia têxtil e, por não ter medo do novo, decidiu colocar sua própria empresa de “silkscreen”, onde ficou até 1958. Em 1962, foi convidado pelo chefe do Departamento Nacional de Obras Contras as Secas (Dnocs) para desenvolver alguns trabalhos, e lá ficou, trabalhando por 28 anos da sua vida como desenhista técnico.

 

Aos 17 anos, Miguel Nirez se apaixonou pela primeira vez por uma moça que morava no interior de Umirim e, foi por Expedita de Oliveira Sales, que ele recorda da sua primeira “loucura de amor”. “Eu estava com muitas saudades dela e decidi visitá-la. Naquela época, meu transporte era uma bicicleta. Então, cheguei na Av. Bezerra de Menezes e vi no mapa que parecia perto e saí pedalando”, revela, sobre uma visita à casa da namorada, quando teve de pedalar mais de 100 Km, só de ida, porque não teve condições de voltar pedalando. O jovem apaixonado retornou para a capital de carona, em cima da carroceria de um caminhão. E, como diria a música de Nelson Gonçalves, “nem sempre o primeiro amor, é a primeiro namorado”. A paixão, logo passou.

 

Em 1954, ele se apaixonou mais uma vez e, desta vez, por uma moça que morava na sua rua. Maria Zenita Rodrigues era noiva quando conheceu Nirez, mas ele sempre dava um jeito de oferecer suas serenatas românticas para conquistar a moça, fazendo com que ela terminasse o noivado. Namoraram por quase cinco anos, noivaram e casaram logo em seguida em 1959. O casal teve quatro filhos: Terezinha, Otacílio, Nirez e Mário. Maria Zenita foi o grande amor da vida de Nirez e sempre o ajudou, incentivando em suas pesquisas e coleções, chegando até a criar gosto pelo hábito do colecionar do marido. “Ela tinha e colecionava canetas e lápis de propaganda, cartões telefônicos e tampinhas de garrafa. As suas coleções também fazem parte do Arquivo Nirez”, destaca.

 

Zenitta e Miguel Nirez foram casados por 54 anos, sendo separados pela morte dela em 19 de agosto de 2013, vítima de diverticulite. Hoje, quando indagado de como se sente em relação à perda da amada, responde dizendo que é um sujeito muito objetivo, apesar de romântico. E que quando a viu adoecer, tratou logo de ir preparando seu coração.

 

Nirez teve quatro namoradas: Expedita, Beatriz, Terezinha e Maria Zenita e foi acusado, por todas elas, de ser um homem romântico. Aos 82 anos, diz que o amor é construção, que não tem muito segredo para viver um casamento à moda antiga. “Você só precisa se colocar no lugar do outro e com paciência tudo se resolve”, finaliza, com um sorriso no rosto.

Viagens, sebos e novas aquisições

O Arquivo Nirez é aberto para a visitação e conta um acervo grandioso de discos de vinil, máquinas fotográficas, anúncios publicitários, gramofones, livros e coleções diversas. Nirez pensa em expandir o seu museu pessoal. Diz que seu desejo é viajar pelo Brasil, para conhecer sebos e fazer aquisições que o seu bolso possa pagar. “Meu negócio é o seguinte: vou pro Rio de Janeiro, e passo uma semana lá. E me perguntam se já fui ao Corcovado, e digo que não! Já foi ver o Pão de Açúcar? Digo que não! Eu fui visitar museus e sebos, mais sebos porque eu adquiro; já nos museus fico só com inveja”, completa.

 

Serviço

Arquivo Nirez:

Rua Professor João Bosco, 560, Rodolfo Teófilo
Telefones: (85) 3281-6949 (à noite) / (85) 99982-6439

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